sexta-feira, 4 de março de 2011

Jacques Herzog e Pierre de Meuron - Complexo Cultural Teatro de Dança

Lâminas entrelaçadas dão forma ao teatro de dança.





balança do bairro da Luz, que às vezes pende com estardalhaço para a Cracolândia - região degradada pela venda e consumo de drogas em pleno centro de São Paulo -, pode ganhar mais um contrapeso caso se concretize a intenção da Secretaria da Cultura estadual de implantar o Complexo Cultural Teatro de Dança no terreno onde funcionou durante anos a principal rodoviária paulistana. Projetado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, ele vai somar esforços com o Museu da Língua Portuguesa, de Paulo Mendes da Rocha, e a Sala São Paulo, de Nelson Dupré, na proposta de fazer da cultura um dos focos de estímulo para a revitalização da área.



No início de julho foi divulgado o estudo preliminar preparado pelo escritório Herzog & De Meuron, contratado pela secretaria. Apenas uma praça vai separar o edifício da Estação Júlio Prestes - projetado por Christiano Stockler das Neves e no qual há dez anos Dupré inseriu a Sala São Paulo - do complexo cultural que, segundo a secretaria, vai colocar São Paulo definitivamente na rota dos grandes projetos de arquitetura internacional.
Segundo o órgão paulista, a convocação de Herzog & De Meuron, contratado por notória especialização, entre outros motivos, ocorreu depois de a empresa inglesa TPC Theatre Projects Consultants, também a convite da secretaria, ter definido o perfil do futuro complexo e detalhado o programa de cada item. Seus técnicos estudaram e analisaram a cidade para dimensionar um teatro de características únicas.
A partir desse estudo, a secretaria selecionou escritórios internacionais de arquitetos que poderiam se interessar em desenvolver o projeto: o inglês Norman Foster, o argentino radicado nos EUA Cesar Pelli, o holandês Rem Koolhaas e a dupla suíça. “Queríamos provocar um escândalo na arquitetura brasileira. No bom sentido”, provoca o secretário da Cultura, João Sayad. Mesmo detentores do Pritzker, Oscar Niemeyer e Mendes da Rocha foram descartados, segundo Sayad, por já terem outros projetos na cidade. Na avaliação do secretário, a arquitetura de Foster, Pelli e Koolhaas torna seus projetos facilmente reconhecíveis em qualquer parte do mundo, enquanto a de Herzog & De Meuron revela-se sempre inovadora, invulgar.
A decisão provocou, se não escândalo, pelo menos um choque no meio arquitetônico paulista. De um lado, alguns defenderam a contratação dos suíços, pelos antecedentes de sua admirada arquitetura. Outros, contrariados, contestaram não o trabalho dos arquitetos escolhidos, mas a forma de escolha, argumentando que seria mais justa a realização de um concurso internacional.

Com o caderno do estudo preliminar do TPC nas mãos, Sayad aponta, bem-humorado, a planta de uma das salas e diz: “Aqui vai ficar o camarote do secretário”. Para chegar a ele, Sayad - ou seu eventual sucessor - terá apenas que atravessar a praça Júlio Prestes (a sede da secretaria fica no edifício que também abriga a Sala São Paulo) e percorrer a rampa que demarca a entrada principal do complexo. A partir do lobby, poderá se dirigir a um das dezenas de ambientes, que se distribuirão por aproximadamente 95 mil metros quadrados de área construída. Entre outros, o conjunto contará com três teatros: um para dança e ópera, com 1.750 lugares; outro destinado a teatro e recitais, para 600 espectadores; e uma sala experimental, de 450 lugares.
O conceito intrínseco ao projeto de Herzog & De Meuron foi mesclar e combinar o máximo de atividades possível, transpondo para o edifício a dinâmica da metrópole paulistana. O conjunto possui quatro pavimentos (e altura média de 23 metros), dos quais não se consegue fazer uma leitura externa linear nem definir uma hierarquia entre as fachadas. Uma abordagem possível é a de uma praça suspensa, composta por um jogo de lâminas entrelaçadas nos dois sentidos, que se integra às áreas verdes que a dupla propõe para o entorno.

A quadra abrangida pela intervenção é formada pela praça Júlio Prestes e trechos da rua Helvétia e das avenidas Rio Branco e Duque de Caxias. “Nosso objetivo é criar um espaço cultural bem localizado e de fácil acesso à população, próximo das linhas de metrô e trem. São Paulo merece um grande marco arquitetônico e esse complexo desempenhará tal papel”, avalia Sayad.
Os recursos estimados pelo Estado para a construção do complexo são de 300 milhões de reais, parte dos quais se pretende obter por meio de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Herzog & De Meuron devem receber por seu trabalho cerca de 8,5% desse total, o que representa quase 26 milhões. A secretaria prevê que a licitação para dar início à obra seja realizada no segundo semestre de 2010.


Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 354 Agosto de 2009

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