Mar à vista: casa com visual urbano em pleno litoral de Pernambuco

Com sua linguagem modernista, esta casa subverte o padrão usual dos refúgios praianos
típicos do Nordeste.

Na fachada frontal, notam-se os diferentes volumes da arquitetura e a leve elevação artificial do terreno. A área de serviço fica na frente da casa - a janela esquerda é a da lavanderia. O muro revestido de pedra cariri delimita um pequeno jardim frontal.

"Vou fazer uma casa sem telhado", pensou ele. E assim se deu, com a anuência dos clientes e para a surpresa dos vizinhos, que nunca esperariam uma construção tão urbana perto da areia. Mas o arquiteto Marco Antonio Borsoi, carioca radicado em Recife, tinha os seus motivos. "As casas de praia desagregam muito", diz ele, lembrando a receita que se repete no litoral nordestino: um quiosque de lazer separado da construção principal, na qual todos se reúnem, às vezes com as portas de vidro fechadas e o ar-condicionado ligado em função da força dos ventos. Pois isso não acontece aqui. Localizada num condomínio na praia do Toco, esta casa é usada em cada um de seus cômodos, todos com vista para o mar ou para um jardim. Borsoi também queria evitar que quem chegasse tivesse o horizonte oculto pela areia. Por isso previu uma suave elevação do terreno para que já na porta de entrada se vislumbrasse a borda do oceano. Em torno desse eixo longitudinal cresceram volumes que se explicam pelo clima. Com aberturas calculadas, as fachadas são protegidas por sombras que trazem luz e ventilação na medida certa. Há mais uma explicação: "Por meio da sobreposição de blocos puros, brancos, e recortes precisos, busco uma linguagem poética", define o filho do carioca Acácio Gil Borsoi (1924-2009), um dos mais importantes nomes da arquitetura moderna brasileira.

O piso foi revestido de placas cimentícias 1 x 1 m (Solarium), que continuam na área externa, com cor e medidas iguais, porém mais rugosas. Com 20 x 3 m, a raia termina num L que forma a piscina.

A área de lazer se abre para o pátio e a piscina. A parede ganhou revestimento de cumaru (Hermenegildo Jr. Arte em Madeiras, que fez também as esquadrias da casa). Sem caixilhos, as portas empregam vidro temperado.

Além das quatro suítes do piso superior, há um quarto de hóspedes no térreo. Mais reservado, ele fica junto ao pátio e ao jardim lateral. Em sua extremidade, uma projeção diagonal dá origem a uma varanda interna.

O pátio, um pequeno jardim que desenha um U na planta da casa, facilita a ventilação e é um descanso para os olhos de quem freqüenta o jardim ou passa pelo estar.

No piso superior, o guarda-corpo de vidro temperado é da Belga Vidros. Na piscina, o deck de cumaru, desenhado pelo arquiteto, foi executado pela Madeireira Ana Ferragens e protegido com Coralar Verniz, da Tintas Coral.

Muito freqüentado pelos adolescentes, este recanto com gazebo e raia conta ainda com hidromassagem na piscina. O piso de cimento (Solarium) ao redor do tanque dá continuidade ao usado no interior da casa.

Marco Antonio Borsoi teve boa escola dentro de casa. Seu pai, o carioca Acácio Gil Borsoi (na foto, numa visita à Casa de Pernambuco, na cidade do Porto, em Portugal), foi um nome de peso no modernismo brasileiro. Quando Marco tinha 15 anos, Acácio casou-se pela segunda vez, com a arquiteta pernambucana Janete Costa, que reconhecia no artesanato e na arte popular uma genuína expressão brasileira. Ela morreu em 2008, um ano antes do marido. Neste depoimento, o filho conta como se relacionou com os talentos entre os quais cresceu.


Fonte: Casa abril