sábado, 5 de novembro de 2011

ARQBest-Arquitetura | Catedral de Santiago de Compostela

DEVOÇÃO E BELEZA

Para o poeta alemão Goethe, a Europa foi feita peregrinando a Compostela. A rota milenar levou milhares de pessoas a percorrer seus caminhos para chegar à centenária Catedral de Compostela, magnífica construção arquitetônica que recompensa a fé dos fiéis e a curiosidade dos turistas com sua imponência e capacidade de agregar. Símbolo da Igreja Católica espanhola, hoje Compostela é um patrimônio da humanidade e um convite a todos que desejem realizar essa fascinante viagem.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Fachada do Obreiro (imagem cedida por TURGALICIA).

Santiago de Compostela é o lar espiritual de Espanha. Para muitos cristãos, a peregrinação à catedral de Santiago só rivaliza com uma visita à Terra Santa. Com mais de cem mil visitantes por ano, é um dos destinos de peregrinação no mundo que cresce a maior ritmo. A catedral de Santiago de Compostela está localizada ao fim do antigo caminho de peregrinação medieval, o Caminho de Santiago. A descoberta do alegado sepulcro do apóstolo Santiago, durante o reinado de Afonso II, foi um acontecimento da máxima importância na história da Europa e principalmente dos conflituosos territórios da Península Ibérica. Segundo uma lenda local, em 813 um ermitão localizou seu túmulo num local indicado por uma chuva de estrelas, ou Campus Stellae (campo de estrelas) - expressão que dá origem a Compostela.
O local sagrado se tornou um centro milenar de peregrinação cristã da Europa e foi fator determinante para colocar a Espanha dentro dos círculos medievais graças à catedral dedicada a Santiago Maior, atual padroeiro e protetor do Reino da Espanha. A prática da peregrinação era fruto de uma sociedade religiosa e sacralizada interessada no culto das relíquias como meio de contato com a divindade.
Ao visualizar a catedral, o visitante tem a sensação de estar frente a uma profusão de estilos. A ideia está certa: as duas maiores torres do conjunto datam do século 17, quando o Barroco estava em seu auge. No entanto, a fase barroca se sobrepôs a uma construção românica. O resultado são os ricos e ostentativos detalhes da fachada, quase em sua totalidade barroca, que contrasta com a concepção sóbria do edifício, marcado por arcos, pelas paredes maciças e pelas poucas janelas.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Catedral de Santiago de Compostela (imagem cedida por Miguel Elói).
O estilo românico da catedral é fruto de uma campanha cultural empreendida com o objetivo de educar os fiéis e dar monumentalidade às relíquias dos santos, assim como a seus templos. Pretendia-se passar a mensagem de que somente quem vivesse de acordo com os preceitos da Igreja chegaria ao Paraíso.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Vista da torre (imagem cedida por TURGALICIA).
A construção da catedral atual se deu entre os anos de 1075 e 1128, durante a Reconquista Cristã, na época de Cruzadas. Antes disso, havia uma primeira capela, proveniente do reinado de Alfonso II, feita entre os anos 791 e 842. Essa construção foi destruída nas lutas contra os Mouros. No ano de 872, iniciou-se a construção da nova basílica de pedra. Mas em 1012 essa basílica primitiva foi derrubada para dar inicio à catedral que conhecemos.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Vista do Jardim (imagem cedida por TURGALICIA).
Seu estaleiro de construção serviu como uma grande escola de cantaria onde se formaram gerações de canteiros, que acabaram por se espalhar por toda Espanha. Os mestres pedreiros medievais eram os responsáveis por dar materialidade aos preceitos da Igreja e às palavras de Cristo através de ornamentos nas fachadas e paredes.
Eles tinham ainda permissão para criar um bestiário próprio com o objetivo de aterrorizar os fiéis. Para uma população quase totalmente analfabeta, essas obras eram o meio de aprender sobre a Bíblia e temer os demónios.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Interior da Catedral (imagem cedida por Miguel Elói).
A fachada principal da catedral chama-se Obradoiro, o que significa "trabalho de ourives", devido à talha artística e detalhada dos pedreiros que a realizaram em princípios do século XVIII.
O famoso Pórtico da Glória é a única entrada românica e foi construído no século XI. Em sua estrutura de três colunas podemos ver figuras que contam histórias bíblicas, do Antigo ao Novo Testamento, do Gênesis ao Apocalipse. Os fiéis podiam visualizar, esculpidos em pedra, os principais personagens da história do cristianismo.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Detalhe do Portal da Glória (imagem cedida por TURGALICIA).
A imagem de Daniel traz o que é considerado o primeiro sorriso a ser esculpido em pedra na Europa medieval. Atrás da coluna há uma escultura com a fama de deixar mais inteligente quem bater a cabeça ali três vezes. O visitante então cruza a igreja para contornar o altar principal e abraçar uma imagem do apóstolo. Depois, ainda deve seguir para uma visita às supostas relíquias de são Tiago.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Bota-fumeiro (imagem cedida por Miguel Elói).
O famoso bota-fumeiro está ligado ao século XIV. A peça foi criada para solucionar o problema do cheiro dos peregrinos, que chegavam após dias de caminhadas e muitas vezes estavam havia dois anos sem se lavar. A peça, que é a maior do mundo, possui 1,60 m de altura e pesa 80 kg e encontra-se pendurada por uma corda com 30 metros de comprimento. Quando é utilizado, em ocasiões especiais, como no dia de Santiago (comemorado em 25 de julho), são necessários oito homens para balançá-lo.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago
© Porta interna (imagem cedida por TURGALICIA).
Durante o século XVI, a peregrinação começou a diminuir, consequência da Reforma protestante, e as portas da catedral se fecharam. Somente no século XX o caminho foi recuperado e hoje milhões de peregrinos percorrem as trilhas a pé, a cavalo ou de bicicleta. Muitos encaram a viagem como um ato espiritual e de meditação; outros são seduzidos pelos museus, culinária, monumentos históricos ou vinícolas do percurso. Não importa qual seja o motivo: o viajante será recompensado com uma das mais maravilhosas construções arquitetônicas da humanidade.
arquitetura, Catedral, Compostela, Espanha, Igreja, românica, Santiago

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ARQBest-Arquitetura | Palm Springs e o Modernismo no deserto Californiano


A cidade era o lugar da moda em meados do século XX. Elvis Presley, Frank Sinatra, entre outras estrelas de Hollywood, eram freqüentadores assíduos. E esse público freqüentador levou até ali diversos arquitetos de grande importância da época, deixando em Palm Springs a rica herança de um estilo modernista.


arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Coachella Valley".
Palm Springs é uma cidade americana situada no interior do estado da Califórnia, na parte oeste do vale Coachella, que possui aproximadamente 45 mil habitantes. Fica a duas horas de carro de San Diego e de Los Angeles. Seu clima é desértico, com sol em mais de 350 dias por ano, atingindo temperaturas altíssimas durante o verão e temperaturas mais amenas durante o inverno.
A cidade está localizada em uma planície no sopé das montanhas San Jacinto. Suas ruas, quase todas retas, são quase que inteiramente delineadas por palmeiras, o que dá à cidade um charme especial.
Com a invenção e popularização do ar condicionado a partir da década de 20, o deserto californiano deixou de ser uma região árida e pouco apetecível para se tornar um refúgio dos invernos austeros das regiões vizinhas. Foi quando o jet set internacional despertou para o vale Coachella e, ao desenvolver a área, levou até o deserto a arquitetura modernista, sinônimo de luxo e sofisticação para a época.
Conhecido pelo uso do vidro e linhas retas, o denominado modernismo do deserto está ligado a um estilo de vida de simples elegância e informalidade. Os principais arquitetos responsáveis pelos projetos que traduzem essas características em casas, comércios, igrejas, hotéis, escolas, entre outros, são os famosos Richard Neutra, John Lautner, Donald Wexler, Albert Frey, William "Bill" Krisel, Palmer and Krisel, Inc., William F. Cody, John Porter Clark, George e Robert Alexander e Stewart Williams.
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Casa Haufmann".
Um dos principais ícones do modernismo do deserto é a famosa casa Kaufmann, considerada a obra-prima do austríaco Richard Neutra, radicado nos Estados Unidos nos anos 20. Construída em 1946 com materiais como vidro, aço e pedra, foi recentemente leiloada com a dignidade de uma grande obra de arte, ao lado de obras de Andy Warhol e Francis Bacon, levando a arquitetura a um outro patamar - o de arte colecionável, como a pintura e a escultura. A casa de 300m2 foi adquirida por algo em torno de US$ 17 milhões.
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Casa Haufmann".
Outro ícone de igual importância para o cenário modernista de Palm Springs é o incrível posto de gasolina projetada por Albert Frey e Robson Chambers, construído em 1965. O edifício, de forma inusitada para um posto de gasolina, é hoje sede do centro de informações turísticas da cidade. Sua cobertura possui contornos de um parabolóide hiperbólico, feito com estrutura metálica.
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Posto de gasolina".
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Posto de gasolina".
Importante citar Stewart Willians, arquiteto que projetou várias edificações modernistas em Palm Springs. De todas as suas obras, merecem destaque o edifício de escritórios Oasis, concluído em 1952, a casa de Frank Sinatra, concluída em 1946, e o banco Coachella Valley, concluído em 1960. Esse banco, inclusive, possui formas semelhantes às de Oscar Niemeyer no Palácio da Alvorada, finalizado apenas dois anos antes, em 1958. Hoje, ele é a sede do banco Chase.
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Escritórios Oasis".
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Casa de Frank Sinatra".
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Banco Coachella Valley".
Um dos locais mais populares de Palm Springs é a chamada casa do futuro, construída em 1962 e projetada por William Krisel. Assim que a casa ficou pronta, a revista Look publicou uma reportagem falando que ela era um modelo de casa do futuro, o que lhe rendeu este nome. Mas a casa se tornou realmente famosa por ter sido o lugar onde Elvis e Priscilla Presley passaram sua lua de mel em 1967.
arquitetura, califórnia, coachella, deserto, estados, modernismo, palm, springs, unidos
© Izabela Americano, "Casa do Futuro".
O comitê responsável pela preservação da história de Palm Springs possui uma lista com 75 edificações do estilo modernismo do deserto. Para os que visitam a cidade, é possível comprar um mapa com a localização de todas elas.
A importância histórica da cidade está sendo cada vez mais reconhecida: Palm Springs foi citada como um dos 12 destinos culturais para arquitetura americana. Além de ser uma cidade linda e charmosa, alimenta os olhos de seus visitantes com cultura e design.

ARQBest-Arquitetura | Palácio da Pena: Um castelo de Príncipe e Princesas


O palácio da Pena é um dos ex-líbris da região de Lisboa. Situado no cimo da serra de Sintra, foi mandado construir pelo Rei consorte D. Fernando II de Saxe Coburgo Gotha. Em 1839, as ruínas de um antigo convento e a zona envolvente maravilharam o monarca, que aí mandou construir a sua residência de Verão. Inspirado na arquitectura de outros castelos europeus, e com uma decoração exótica e extremamente detalhista, o Palácio Nacional da Pena é o mais completo exemplar do Romantismo português.



da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
Palácio da Pena, entrada principal.
Em 2007 foi eleito uma das 7 maravilhas de Portugal. No entanto, o Palácio Nacional da Pena há muito encanta quem o visita. Seja pela imponente arquitectura, pela exótica decoração, que mistura vários estilos, ou pelo parque que o rodeia, este edifício constitui uma das mais belas construções da região de Lisboa. A 4,5km do centro histórico de Sintra, foi projectado pelo arquitecto Barão de Eschwege e decorado pelo próprio Rei D. Fernando II.
De convento em ruínas a palácio
Em 1839, o monarca visitou as ruínas de um antigo convento que tinha sido destruído por um raio e pelo (grande) terramoto de 1755. Mandado construir por D. Manuel I, o Mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena encantou D. Fernando II, que então o adquiriu e transformou na sua residência de Verão.
Para dirigir a restauração do edifício, contrata o Barão de Eschwege, um arquitecto alemão que trabalhava em Portugal como engenheiro de minas. O projecto do palácio era inspirado noutras construções europeias, nomeadamente nos castelos da Baviera. Mas, ao nível da decoração e dos detalhes, foi o gosto do monarca que o “revestiu”. Deve-se à sua personalidade eclética e romântica a mistura de arcos, torres medievais, traços de inspiração gótica e árabe que o caracterizam.
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
Palácio da Pena, entrada principal.
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
Palácio da Pena.
Após a morte e D. Fernando, o palácio ficou entregue à sua segunda mulher, Elisa Hendler (Condessa de Edla). Na época, este facto causou grande polémica, dado que publicamente o palácio era já considerado um monumento. Elisa Hendler acabou por aceitar um acordo com o Estado português – que lhe ofereceu uma proposta de compra – e reservou para si apenas os aposentos do “Chalet da Condessa”. O Palácio da Pena passou a partir daí a ser Património Nacional.
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
Palácio da Pena, Tritão.
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
Palácio da Pena, Tritão.
Um castelo de fantasia e exotismo
A construção deste palácio foi idealizada para o Parque da Pena, uma vasta área verde salpicada de enormes rochedos que o rodeia. São mais de 85 hectares de jardins, lagos, pontes e pequenas estufas e viveiros com diversas flores e árvores vindas de todo o mundo. Do interior, é possível ver-se uma das obras de arte: uma escultura de um guerreiro.
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
O palácio está dividido em quatro áreas: as muralhas que o cercam, com duas portas; o antigo convento restaurado juntamente com a torre do relógio, no topo da colina; o pátio com a sua parede de arcos; e a zona palaciana, caracterizada pelo seu interior em estilo cathédrale, com mobiliário e decorações típicas da época.
Do antigo convento foram conservados os claustros, a capela e alguns anexos que serviram de base para a reconstrução. A sua adaptação, realizada com uma junção de vários estilos e influências góticas, mouriscas, neo-manuelinas e árabes, resultou num ambiente de um autêntico cenário “das mil e uma noites”, nas palavras de Richard Strauss: “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto e nunca vi nada que valha a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor – e, lá no alto, está o castelo do Santo Graal”.
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
A fachada principal e a capela foram revestidas de azulejos. Todas as torres (exceptuando a do relógio) receberam cúpulas, baseadas essencialmente em obras como a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos ou o Convento de Cristo. Os aposentos do palácio foram também decorados com azulejos, para além de inúmeras pinturas murais em trompe-l’oeil e peças únicas de colecção, espalhadas pelas várias salas existentes.
O “Chalet da Condessa”, mandando construir como zona de lazer para o rei-consorte e a sua mulher, está parcialmente destruído. Tendo sido inspirado nos chalés dos Alpes, estava rodeado por um jardim e o seu revestimento exterior simulava madeira (algo comum em finais do século XIX). O processo de recuperação começou em 2007 pela empresa Parques de Sintra – Monte da Lua e a primeira fase de trabalhos terminou há poucos meses.
Desde a implantação da República, em 1910, o Palácio da Pena tornou-se museu e passou a ser chamado Palácio Nacional da Pena. Digno de um conto de príncipes e princesas, representa o mais belo exemplar da arquitectura romântica portuguesa.
da, dom, fernando, palacio, pena, romantismo, sintra
Palácio da Pena, minarete.
(Parques de Sintra - Monte da Lua. Todas as fotos foram cedidas pelo departamento de comunicação