domingo, 6 de fevereiro de 2011

ARTIGO: Face Norte: mitos e verdades

Quem já leu anúncios classificados de imóveis, decerto já se deparou com a expressão "face norte", usada como argumento de venda, como se isso fosse necessariamente uma vantagem merecedora de destaque.
Afinal, uma edificação voltada para a face norte é mesmo superior àquelas viradas para as faces sul, leste ou oeste? A resposta curta é: depende.
Os "leques" representam a trajetória aparente do sol ao longo do dia, no solstício de verão e no de inverno, em São Paulo, do ponto de vista de um observador no centro da circunferência (o horário de verão foi desconsiderado). No verão o sol forma um ângulo de ~89º com plano horizontal ao meio-dia. No inverno, esse ângulo é de ~43º, o que permite que a luz e o calor penetrem pelas janelas.

De fato, no Hemisfério Sul (e quanto mais ao sul, mais acentuadas serão as diferenças), as aberturas ao norte geralmente recebem maior incidência de sol ao longo do ano. O que não é necessariamente bom. Em regiões quentes, naturalmente é desejável controlar a incidência de sol, e ter muitas janelas abertas para o norte pode ser contraproducente.
A vantagem da face Norte é que ela permite maior incidência do sol quando mais o desejamos - durante o inverno -, pois a direção dos raios solares durante esta estação é mais 'rasante' por volta do meio-dia. No início da manhã e no fim da tarde, a face norte é menos insolada que as faces leste e oeste, respectivamente. Isso vale para aberturas verticais, isto é, portas e janelas instaladas em paredes (que por isso mesmo são as predominantes nas nossas construções), e não as aberturas horizontais em coberturas, tais como domos, skylights e clarabóias. Ao meio-dia de um dia de verão, o sol estará mais próximo da linha vertical (praticamente a pino em São Paulo), portanto tende a aquecer mais as superfícies horizontais, e não terá um ângulo adequado para entrar por janelas verticais (especialmente se a cobertura tiver beirais). Daí se conclui que os skylights, embora sejam um recurso decorativo interessante, devem ser utilizados com parcimônia, pois invertem a situação ideal: recebem muito sol no verão.
Até agora, discutimos a insolação como se a edificação estivesse isolada num terreno plano e descampado, o que é excessão. Os elementos do entorno influenciam - e muito. Prédios altos (ou nem tão altos, mas muito próximos), árvores, e até o relevo do terreno podem mudar completamente o quadro, e a face norte pode acabar sendo a mais escura de todas.
Outra questão a observar é que, com excessão de apartamentos em prédios com muitas unidades por andar, a maioria das edificações tem mais de uma 'face'. Portanto, não faz muito sentido dizer que uma casa ou apartamento é 'face norte'. É mais relevante analisar a direção das aberturas de cada cômodo individualmente, e preferir aqueles cujos ambientes de permanência prolongada, tais como os dormitórios e as salas, sejam corretamente orientados.
E lembre-se que a maioria das fachadas não são rigorosamente orientadas para o norte, sul, leste ou oeste. Elas podem apontar para qualquer um dos 360 graus que formam uma circunferência. Existem as faces 'mais norte' e as 'menos norte'.
Por último, é preciso considerar não só a insolação, mas também as outras funções dos vãos em uma edificação: entrar e sair, ventilar, proporcionar ângulos de visão interessantes, e decorar as fachadas.
Assim, da próxima vez que o corretor tentar justificar o preço maior de um apartamento porque ele é "face norte", desconfie, pois as coisas infelizmente não são tão simples. E não hesite em consultar seu arquiteto, caso tenha dúvidas.

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